A água nunca discute com os obstáculos, os contorna.
A idéia principal em nosso dojo é - agir como a Água, mas isso não significa
inércia.
A primeira coisa que Mizu no Kokoro (uma mente como a água) nos ensina é, quando
a água é calma não há ondulações, não há perturbação. A superfície de um lago quando
não há vento é perfeitamente imóvel. Trazendo esse conceito para nossa vida, assim
devemos manter nossa mente perfeitamente imóvel, calma e relaxada.
Mente calma quer dizer, sem os intermináveis diálogos internos, que não se perde nas
lembranças boas ou más do passado, que não foge para as previsões do futuro, que não
tenta reter nada que seja bom, nem tenta expulsar aquilo que seja ruim, que atua como
observadora atenta de tudo que acontece ao seu redor.
Uma mente completamente neutra e sem sensações do tipo “eu gosto” ou “eu não gosto”,
que não distingue entre 'sim' e 'não', entre 'bom' ou 'mal'. Uma mente que passeia
pelo mundo sem distinções e intranquilidades.
De repente a superfície desse lago é perturbada, imediatamente ondulações são criadas.
Anéis concêntricos espalham-se a partir da fonte do distúrbio, anéis esses que formam
ondas que mais dia menos diaretornarão ao ponto onde houve a perturbação (Karma). A água
não é mais calma e tranquila imagine novamente sua mente como esse lago... Perceba que a
água á partir do momento que foi perturbada, não reage de qualquer forma, ela reage em
função da agressão recebida que é proporcional à força do agente causador.
A água e a mente são iguais, sempre que elas reagem o fazem na medida da sua agressão, o
objetivo é sempre retornar a calma, para tal, a água revida na justa medida, mas o faz,
sem sentimentos de raiva ou vingança. Sua reação sempre se encontra em perfeita harmonia
com a ação inicial perturbadora.
O Dojo é o local onde se treinam artes marciais japonesas. Muito mais do que
uma simples área, o dojo deve ser respeitado como se fosse a casa dos praticantes. Por
isso, é comum ver o praticante fazendo uma reverência antes de adentrar, tal como se faz
nos lares japoneses.
Em um dojo existem dois tipos de reverência: o RITSUREI e o ZAREI. O Ritsurei é realizado
de pé. A maneira correta de se cumprimentar, partindo-se da posição natural (SHIZENTAI),
é curvar o corpo apenas em 30 cm e segurá-la por meio segundo e retornar a posição ereta.
Enquanto o Zarei é realizado a partir da posição Seiza (o praticante senta-se sobre seus
calcanhares e quando o fizer deverá abaixar sua perna esquerda e em seguida a direita,
colocando o dedão do pé esquerdo sobre o do direito, ao levantar-se ocorre a inversão),
inclinando-se o corpo e as mãos descem suavemente das coxas para o chão, formando um
triângulo onde a testa tocará.
O cumprimento deve acontecer nas situações a seguir:
1 - Quando entramos ou saímos do dojo;
2 - Quando o professor entra ou sai do dojo;
3 - No início e final da aula;
4 - No início e final de um kata;
5 - No início e final de um exercício com um companheiro.
O termo dojo foi emprestado do Zen Budismo, significando lugar de iluminação, onde os
monges praticavam a meditação, a concentração, a respiração, os exercícios físicos e
outros mais. Decompondo-se a palavra dojo temos dois kanjis, Do quer dizer meio, forma
ou caminho (sentido espiritual); e JO, significa lugar, área ou espaço físico.
A palavra DOJO somente se refere ao espaço físico onde se desenvolve o treino de uma arte
marcial japonesa, enquanto academia se refere ao lugar onde se pratica alguma modalidade
esportiva, ou não. Logo, dojo é o lugar onde se pratica o caminho de uma arte marcial.
O mestre pode deixar o aluno entrar no Dojo, mas somente vai deixá-lo subir a
escada que o levará ao conhecimento se sentir que este tenha caráter e devoção pelo caminho,
bem como tenha o sentimento de "Kansha" (gratidão) no coração. Na relação Senpai-Kohai, a
lealdade e admiração mútua é condição básica. Não se pode comprar conhecimentos de Budô,
é preciso merecê-los. É o aluno que tem que ir atrás do mestre e lhe dar respeito e não o
contrário.
No momento em que o aluno quer corrigir ou demonstrar que sabe mais que o mestre, quebra-se
imediatamente a relação e não se pode mais haver transmissão de conhecimentos. Às vezes, os
alunos com o passar do tempo pensam perceber erros nos mestres e têm a tentação de corrigí-los
ou criticá-los. Mesmo que eventualmente o mestre esteja errado, o que é pouco provável,
espiritualmente e devido à relação Senpai-Kohai, isto jamais deve ser feito por parte do aluno.
Neste sentido, o conceito de "Enryo" (estoicismo) é vital, não se podendo deixar as emoções
menores prevalecerem. O mestre merece sempre reverência, lealdade e gratidão. Se não for assim,
o mestre desaparece, pois na verdade ele só existe devido ao aluno que busca conhecimentos e
assim se propõe a passar-lhe o que sabe de coração como a um filho.
No Aikido existem três tipos de misogi: o do ambiente, o físico e o espiritual. Não há
um tipo que venha primeiro do que outro, pois ao fazer um tipo de misogi, sinto que estou a fazer
os outros. Quem faz Aikido tem de fazer necessariamente algum tipo de misogi, seja a que nível for,
mesmo que não se aperceba.
O misogi, purificação, nada mais é do que uma limpeza. Ou antes, o processo da purificação começa
com uma limpeza. O'Sensei disse várias vezes que "O Aikido é misogi". Ao adentrarmos em um dojo de
Aikido, todos os praticantes devem contribuir para a limpeza do dojo: o misogi do ambiente. É uma
forma de contribuir com a manutenção do dojo e de demonstrar gratidão para com o sensei, mas
principalmente de introduzir-nos ao objetivo da prática real do Aikido, ou seja, a purificação
através da técnica. Neste caso começamos com a técnica de limpeza do ambiente.
É importante utilizarmos o misogi para purificar o ambiente e a mente. A limpeza serve para encontrar
a impureza e eliminá-la por completo. Nunca devemos esperar que o sensei dê ordens ou peça para que
os alunos realizem tal tarefa. A iniciativa deve partir sempre do aluno. Por favor, olhem para a esta
prática de um modo mais sério e profundo para assim poder desfrutá-la plenamente.